ENDOMETRIOSE – Complicações de percurso [IMPERDÍVEL]

Menstruar é um processo natural, mas nem sempre simples. Se você tem dores durante o ciclo e nas relações sexuais, fique alerta, pois pode ser endometriose. A doença, que afeta uma em cada dez mulheres brasileiras, atrapalha a produtividade e chega até a impedir a gravidez.

O que é endometriose?

Antes de mais nada, você precisa entender o que é o endométrio. Trata-se da mucosa que reveste internamente o útero, na qual o óvulo, depois de fertilizado, se implanta. Quando não há fecundação, parte dessa película sai na menstruação. No entanto, nas portadoras de endometriose, as células do endométrio se fixam nas trompas, nos ovários, na bexiga, no intestino ou no peritônio. Elas se multiplicam e sangram, como no ciclo menstrual. O sangue acumulado fora do útero provoca irritação e inflamação. E é ai que surgem as cólicas, as dores pélvicas crônicas e o incômodo durante as relações sexuais. Como se não bastasse, as células do endométrio as vezes ficam sobre o intestino e a bexiga, causando dor ao urinar e ao evacuar, além de infecção urinária e diarreia. Essas alterações aparecem sobretudo durante a menstruação.

55% das brasileiras não sabem o que é endometriose.
Entenda de uma vez por todas:

O que é?
Acúmulo de sangue menstrual na cavidade do abdome
Por que ocorre?
A. Todos os meses, o endométrio (camada que reveste o útero) fica mais espesso, à espera de um bebê
B. Quando a mulher não engravida, desce a menstruação
C. Um pouco desse sangue entra na parede abdominal, mas as células de defesa fazem a limpeza
D. Na endometriose, o sangue não é totalmente eliminado e pode invadir alguns órgãos, como o intestino e a bexiga

Quais são os sintomas?

Os principais sintomas da endometriose são dor e infertilidade. Aproximadamente 20% das mulheres têm apenas dor, 60% têm dor e infertilidade, e 20% apenas infertilidade.

Existem mulheres que sofrem dores incapacitantes e outras que não sentem nenhum tipo de desconforto. Entre os sintomas mais comuns estão:

• Cólicas menstruais intensas e dor durante a menstruação;
• Dor pré-menstrual;
• Dor durante as relações sexuais;
• Dor difusa ou crônica na região pélvica;
• Fadiga crônica e exaustão;
• Sangramento menstrual intenso ou irregular;
• Alterações intestinais ou urinárias durante a menstruação;
• Dificuldade para engravidar e infertilidade.

A dor da endometriose pode se manifestar como uma cólica menstrual intensa, ou dor pélvica/abdominal à relação sexual, ou dor “no intestino” na época das menstruações, ou, ainda, uma mistura desses sintomas.

Qual é a causa da doença?

Ainda não se sabe ao certo. A endometriose pode estar ligada a fatores genéticos, ambientas e ginecológicos, mas existem duas principais teorias apontadas pela medicina. A primeira é a da menstruação retrógrada. O sangue menstrual em vez de sair pela vagina, volta pelas trompas para a cavidade pélvica e fica lá, podendo grudar num órgão da região. A outra é a da metaplasia, que é a transformação de determinados tecidos em células endometriais. Por exemplo, o tecido da bexiga se converteria em tecido de endométrio, adquirindo as suas características. Os médicos ainda investiga o que levaria a essa mutação, mas acredita-se que tenha a ver com falhas no sistema imunológico e com questões genéticas.

Como identificá-la?

O diagnóstico demora, em média, oito anos para ser concluído! Isso porque, quando o quadro é marcado somente por cólicas, muitos médicos desconfiam de outros problemas e não pedem os exames corretos. Apesar de difundido o exame de toque vaginal causar alterações como lesões típicas do mal, é o ultrassom transvaginal com preparo intestinal e, em alguns casos, a ressonância magnética que fornecem pistas mais claras. A constatação definitiva só é feita após a videolaparoscopia, cirurgia realizada por meio de pequenas incisões na barriga, e a introdução de instrumentos telescópios para a visualização e, se for necessário, a retirada das lesões. Daí a importância de contar com um ginecologista capacitado, que valorize o seu histórico e peça uma bateria de exames. Se você desconfia que tem endometriose, também vale notar os sintomas detalhadamente (quanto tempo duram, como as dores se manifestam, a intensidade delas…) e dividir as informações com o médico, dizendo que deseja investigar se possui a doença.

Há chances de infertilidade?

Metade das pacientes estão sujeitas ao problema. E vale ressaltar: ele é, muitas vezes, causado pelo diagnóstico tardio de endometriose. Uma das razões é a obstrução nas trompas, o que inviabiliza a gravidez por meios naturais. A doença também leva a alterações hormonais, bioquímicas e imunológicas, que atrapalham o funcionamento do aparelho reprodutivo. Em alguns casos, a mulher pode ser afetada na sua reserva ovariana, ou seja, há diminuição do número de óvulos e da qualidade, o que reduz as chances de gestação. Muitas vezes a infertilidade pode ser revertida com tratamento cirúrgico ou de reprodução assistida.

Quais são os exames?

A endometriose ainda é uma doença difícil de diagnosticar por meio do exame físico, ou seja, realizado durante a consulta ginecológica de rotina. Dessa forma, os exames de imagem são mais adequados para indicar a possível existência do problema, que será confirmada posteriormente por meio de exames laboratoriais específicos.

Entre os exames de imagem que podem sinalizar a endometriose, destacam-se:

Ultrassonografia transvaginal – Procedimento de menor custo, que permite a identificação de endometriomas, aderências pélvicas e endometriose profunda.

Ressonância magnética – Exame mais caro, a ressonância magnética apresenta melhores taxas de sensibilidade e especificidade na avaliação de pacientes com endometrioma e endometriose profunda.

Para identificar a existência da endometriose, outros exames complementares ainda podem ser solicitados pelo médico, como a ultrassonografia transretal, a ecoendoscopia retal e a tomografia computadorizada. Após a identificação de alguma alteração, o médico poderá optar por realizar uma biópsia da lesão encontrada, de modo a confirmar o diagnóstico. Essa avaliação será realizada por meio de exames chamados laparoscopia e laparopotomia.

Laparoscopia – Permite tanto o diagnóstico como o tratamento da paciente. O procedimento é realizado através de pequenas incisões na barriga, e a introdução de instrumentos telescópicos para a visualização, e se for o caso, para a retirada das lesões. A laparoscopia também permite a coleta de material para avaliação histológica e o tratamento cirúrgico das lesões. O ideal é que seja realizado após o término da fase de avaliação por meio dos métodos de imagem, permitindo que o diagnóstico e o tratamento possam ser feitos de maneira integrada – e evitando, assim, múltiplos procedimentos. A Laparoscopia é mais vantajosa que a Laparotomia, porque envolve um menor tempo de hospitalização, anestesia e recuperação, além de permitir uma melhor visualização dos focos da doença.

Laparotomia – É o procedimento tradicional e considerado mais invasivo em comparação à Laparoscopia.  Envolve uma incisão abdominal maior para acessar os órgãos internos, e pode ser indicada pelo médico dependendo das necessidades da paciente.

Hoje em dia, no entanto, existem diversos tipos de tratamentos não invasivos, que podem reduzir o número total de procedimentos a que a paciente é submetida. Vale ressaltar que a endometriose é uma doença crônica, e por isso o acompanhamento médico contínuo é fundamental.

Dá para prevenir?

Como as causas da endometriose ainda não são totalmente conhecidas, as táticas para a prevenção são limitadas. No entanto, consultar-se anualmente com um ginecologista, adotar uma dieta rica em alimentos antioxidantes, controlar o peso regularmente e diminuir o stress são condições que preservam a integridade do organismo e previnem o surgimento de enfermidades, de um modo geral, e também ajudam o corpo a responder melhor a qualquer problema.

Não há consenso médico sobre as causas que levam ao desenvolvimento da endometriose, de modo que ainda é difícil falar diretamente em prevenção. Entretanto, diversos estudos sobre as características das mulheres que têm a doença ajudam a medicina a se aproximar de maiores respostas. Enquanto alguns fatores de risco para a endometriose são bem conhecidos, ainda não é claro como determinados comportamentos, tais como o uso de determinados medicamentos, drogas, entre outros fatores, poderiam aumentar ou diminuir as chances de desenvolver a doença. Alguns estudos associam o padrão menstrual à ocorrência de endometriose: pacientes com fluxo mais intenso e mais frequente teriam mais risco de apresentar a doença. A relação entre o uso de pílula anticoncepcional e a endometriose ainda é polêmica: há pesquisadores que encontraram aumento de risco, e outros que indicaram a redução ou ausência de efeito. Como alguns anticoncepcionais orais são utilizados por mulheres que apresentam cólicas menstruais (dismenorreia primaria), e a endometriose causa dor pélvica (dismenorreia e dispareunia), a pílula é muitas vezes prescrita para mulheres que têm a doença, sem que se tenha descoberto alguma relação de causa e efeito entre elas.

Filhas e irmãs de pacientes com endometriose têm maior risco de também desenvolver o problema. A identificação genética poderia ajudar a entender melhor a doença, mas é ainda difícil saber o quanto os genes realmente são relevantes em relação a outros fatores, como etnia e fatores ambientais. Consumir muito álcool e cafeína são hábitos que têm sido associados ao aumento do risco ou piora do quadro de endometriose, enquanto fazer atividades físicas parece diminuir as chances de desenvolver a doença.

Com um debate científico ainda bastante acalorado sobre as causas da endometriose, o melhor que as pacientes podem fazer para manter a saúde em dia é consultar regularmente o ginecologista. Observar os sintomas e conhecer seu corpo também são atitudes que ajudam a perceber alterações, indicando a necessidade de voltar mais cedo ao consultório.

por Redação